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A Mais Branca Sombra do Pálido
Cód:
124_9788583601418
Enxerguei primeiro um estranho objeto — pendurado na parede —, uma espécie de escultura metálica no formato de roleta, recheada de figuras e objetos intrigantes. Mais ao fundo, perto das velas, uma cama de campanha forrada por um lençol negro, onde jazia uma figura delgada, incrivelmente esquálida, com longos cabelos brancos e rebeldes. O visual de minha mãe naquele momento fazia inveja a qualquer bruxa. Aproximei-me dela com esmero. Ao lado da cama, apenas um criado mudo e, em cima dele, um livro dourado e uma ânfora de metal. Acima da cama dois castiçais presos à parede, onde as longas velas negras continuavam a bruxulear. Antes de tocar no ser materno, notei que a parede de fundo do porão estava revestida de vidro, um vidro negro, opaco, sem reflexo. Nunca tinha visto nada igual. Então ajoelhei ao lado dela e esperei ela virar o rosto lentamente em minha direção. Seus olhos estavam fundos; a íris quase de cor carmim; polpudas olheiras; as rugas abundavam-lhe a face; a pele ostentava a mais branca sombra do pálido. Nada parecia a mulher viçosa e graciosa dos meus tempos pueris. Um trecho de uma das novelas que compõe a coletânea A Mais Branca Sombra do Pálido, que o escritor baiano traz à ribalta. Vale a pena conferir as histórias. Irresistível não lê-las de uma só tacada.
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