Arquitetura sustentável?: quando o discurso não mais sustenta um futuro para a prática
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Para compreendermos como a produção material do edifício e da cidade acabou como um dos principais protagonistas do aquecimento global, é necessário compreendermos sua história e as narrativas elaboradas ao longo de seu processo histórico: não há como articular todas as suas dimensões se não escrutinarmos seu desenvolvimento num longo arco de tempo, percebendo-o gestado no mesmo útero do modo de produção capitalista. O que Rita Saramago nos traz com seu trabalho é uma rigorosa carpintaria dessa construção, ao mesmo tempo histórica e teórica: associando a trajetória do discurso que afirma a sustentabilidade como argumento (retórico) e o percurso do que se estabeleceu, contemporaneamente, chamar ‘arquitetura sustentável. Rita demonstra, com a ajuda de Sérgio Ferro, como a necessidade de extração de valor aquele que só o trabalho produz determinou, a cada período histórico, a indústria que faz do canteiro de obras a síntese de um sem-número de processos que sugam as entranhas e corroem o planeta em todas as suas dimensões geográficas e geomorfológicas. O que Rita Saramago nos coloca à frente, sem filtros, é nossa incapacidade, como arquitetos, de enxergarmos para além do nosso esperto jogo de volumes e formas e transparências e peles etc. Nossa incapacidade de enxergarmos que estamos ateando fogo nesse nosso único planeta, ironicamente engajados na produção do abrigo que nos permite habitá-lo. João Marcos de Almeida Lopes
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