Governar a vida, exercer a morte - biopolítica e necroliberalismo na pandemia de coronavírus
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A associação do vigor pausado e necessário da reflexão com a urgência do pensamento dirigido para o presente traz resultados inesperados. O presente livro de Gabriel Vilarinho, feito no contexto de um mundo em ebulição, nos anos vinte do século XXI, associa com propriedade trama conceitual e dados de realidade. A inesperada eclosão do surto do SARS-coV-2, vírus que se espalhou rapidamente pelo planeta, rebatizado depois como COVID-19, gerou decisivas modificações de comportamento, sobretudo o do presumido afastamento do contato físico irrestrito entre as pessoas, com a finalidade de evitar a propagação da pandemia. A doença e a morte passaram a fazer parte das preocupações de muita gente, assim como de governos e instituições sérias. O afastamento social, a suspensão de atividade coletivas (como aulas em escolas e universidades), a suspensão/fechamento de lugares de contato social, muitos vivenciaram em suas cidades ou países ao chamamento ao isolamento social preconizado por médicos e autoridades. O mundo, todavia, não parou. Em nenhum dia a Terra parou. Assim como não parou parcela substancial da atividade produtiva. Os operários, as trabalhadoras, os camponeses, os negros e as negras continuaram a suar, e a viver as suas difíceis condições de trabalho, de transporte e de vida. As bolsas de valores, por sua vez, trazem resultados positivos para os investidores, e os empresários alegram-se com a rentabilidade de seus empreendimentos. Estranha pandemia, e é essa paradoxal situação que Gabriel Vilarinho mostra em seu livro. Na confluência de estudos teóricos recentes com acurada pesquisa de informações, este livro, de extrema atualidade, vem mostrar que a pandemia, no mundo neoliberal, recebe a marca das desigualdades, de diversas ordens, e amplia o abismo entre as pessoas, não mais no tocante ao cuidado físico, mas sobretudo no direito à vida e à morte. Nos descobrimos cercados pelo mundo da morte, em muitos casos resultado deliberado por gestões necropol
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