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O dia (1011)
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Mailson Furtado despontou entre os poetas de sua geração com versos que convidam os leitores a um passeio pela pequena Varjota, no sertão cearense: à cidade, editado pelo próprio autor, ganhou não apenas o Jabuti de melhor livro de poesia, como arrematou também a premiação máxima daquele 2018: a de livro do ano. Trata-se de um longo poema ensolarado, em que a vida cruza as ruas (e vice-versa) e toda a paisagem se agita diante dos olhos curiosos de um poeta que, a cada palavra, com ela se confunde. Em O dia, saímos da cidade de Furtado para uma casa onde — apesar do caminho sugerido pelo título — é noite; e/ toda a vida cabe/ nesta noite. O poema em ato único tece as horas insones, prensadas entre um dia que não vai embora e outro que não quer chegar. Não há amanhã, não há mundo, não há tempo: tudo que existe é a noite ao longo da qual o poeta enfrenta suas tantas inquietações a respeito da vida — do que ela se tornou nestes dias que não nos deixam dormir — e o monólogo que dá a elas como resposta, com a velocidade e a clareza características de sua poesia. Esta é uma obra de um poeta maduro, muito consciente do que pretende tocar e revelar com seus versos. Nas palavras de Micheliny Verunschk, que assina o texto de orelha, temos a construção de certa poética da insônia, esta que, na obra de Furtado, se desfia em um tecido político que fala ao tempo que nos coube viver. Rasgando esse tempo, sob o céu de sol escaldante ou recolhido, um poeta como Mailson Furtado consegue fazer com que as palavras brilhem e iluminem a vida até mesmo sob as sombras mais pesadas.
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